XII Legiao

terça-feira, maio 16, 2006

Estórias que a vida conta - II

Crônica de uma segunda-feira atipicamente tranquila

Tarde de segunda-feira.
Estávamos, Sueme e eu, nos degladiando contra uma maldita pesquisa institucional. Pela internet, São Paulo estava em guerra civil: bombas, estações e universidades metralhadas, toque de recolher, o metrô iria parar, também os ônibus, enfim, o caos ...
Ficamos assustados. Pensei em logo ir embora.
Entretanto, a tv ligada na sala não confirmava nenhum daqueles acontecimentos. Na verdade, ela apenas parecia retratar as consequências daquelas informações. Dava conta das pessoas aflitas, sem celular, correndo para casa. Congestionamento recorde as cinco da tarde. O comércio fechando. Escolas e universidades cancelando as aulas. Repartições públicas suspendendo as atividades.
O Cadu liga. Também fora dispensado do trabalho e estava vindo ao nosso encontro.
Quando ele chega, relata sobre a esquizofrenia dos colegas de escritório e sobre as pessoas que assustadas abarrotavam as estações de metrô.
Alguns comentários sobre a situação, mas tínhamos um trabalho a fazer
Continuamos nossa luta particular contra a pesquisa institucional.
Jantamos.
Por fim, lá pelas oito da noite, fomos embora.
Pensávamos em bebericar algo na rua. Impossível. Todo, absolutamente todo comércio com as portas fechadas. Alguns transeuntes. Poucos carros. Ônibus às moscas. A Paulista como eu nunca vi: morta? não ... em estado de coma. Lamentávamos não ter uma câmera em mãos.
Entramos na estação Brigadeiro. Oito e pouco da noite. Vazia. Nossa conversa fazia eco na plataforma, enquanto esperávamos o metrô. Metrô que chegou com alguns poucos passageiros.
A estação Sé vazia! Às oito e meia da noite! Nunca pensei que um dia veria isso ...
O Cadu seguiu seu rumo. Segui para Luz.
Na Luz, o trem vazio parecia aguardar por mim. Até os camelôs desapareceram: inacreditável! Em alguns instantes pensei estar tomando parte em uma quimera ...
Cheguei a Mauá. Nove e vinte da noite. Confesso que nesse momento fiquei assustado. Havia chegado a uma cidade fantasma. Não havia ônibus, fui a pé para casa. Nenhuma viva alma na rua. Até os cachorros ,que costumam me fazer compania nestes momentos, pareciam com medo: seus latidos eu os ouvia ao longe.
Já na rua de casa, levantei a cabeça e mirei o frio e carrancudo céu sobre mim. Num pequeno suspiro das nuvens a lua espremia sua gorducha face, como que querendo dar uma espiada nestas bandas. Lá em cima tudo parecia estar em paz. Cá embaixo, baseado no que de fato vi e vivi, não pude fazer comentário diferente: tudo estava tranquilo, até demais.